Por que me dá tanta fome?
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Shadia Asencio - 2021-06-11T13:32:19Z
A forma como o corpo se comunica fisicamente conosco é através da dor, do desconforto, da sede, da fome. O apetite é uma sensação que surge em vários momentos do dia e pela qual temos a necessidade de ingerir alimentos; é ruim quando chega sem aviso prévio, quando comemos sem senti-lo, quando mesmo após comer não cessa. Através do apetite é que nosso corpo expressa uma insatisfação que nem sempre é corporal. Em um estado de consciência plena –em conexão com o presente, em sincronia com o corpo e suas sensações- podemos identificar plenamente de onde vem o apetite. Para isso, é necessário fazer uma observação interna: no dentro se resguardam mais que órgãos; no dentro se expressam uma infinidade de sensações que sempre têm algo a nos contar sobre nós mesmos. Ter uma boa comunicação com o corpo é fundamental para a conservação da saúde e, claro, para parar de brigar com a comida, para deixar de pular de uma dieta para outra, para deixar de nos indispor com o fora quando na verdade o que acontece é que há uma desconexão com o dentro. A comunicação com o corpo não é uma loucura do new age. A comunicação corporal significa aguçar os sentidos para o mais tangível que temos; dedicar tempo e espaço para ouvir o corpo. Basta respirar por alguns minutos tomando consciência da inalação e da exalação e ir escaneando cada uma das partes do organismo –sim, como se fôssemos uma máquina de raios x–. “Este é meu nariz. Esta é minha boca, meus vísceras, meus músculos, meu sangue, minha pele…” A partir de alguns instantes, notaremos como se encontra meu dentro: o que dói, o que se sente bem, o que está faltando. A meditação, então, se torna um diálogo corporal no qual o sábio mais sábio nos revela seu estado anímico, físico e emocional. A partir dessa prática diária, começaremos a tomar melhores decisões alimentares e, claro, identificaremos de onde vem a fome que experimentamos. Segundo Jane Chozen Bays, uma escritora e teórica do mindful eating, existem sete tipos de fome. Fome visual: surge, por exemplo, quando vemos um bolo sendo cortado e de seu interior esponjoso emerge uma lava de chocolate derretido. É o chamado food porn: estímulos feitos através da comida que despertam a sensação de querer imediatamente!Fome olfativa: existe algo mais sedutor que o aroma que emana de uma panela de tamales? As notas de um café? Biscoitos no forno? Não creio. Tudo isso é um balde de água nessa fome que se desperta através do nariz. Fome bucal: muitos de nós a vivemos na pandemia; chega com o impulso de querer mastigar algo, roê-lo, porque sentimos angústia, porque experimentamos ansiedade. Esta não encontrará saciedade até que a crise cesse ou a consciência do momento e do que estamos sentindo, aterrisse em nós. Fome estomacal: esta é produto da vacuidade, ou pelo menos de ter espaço no órgão que alguns médicos orientais chamam de segundo cérebro. É normal ter fome estomacal após algumas horas de jejum. Fome celular: a fome que as grávidas expressam em desejos. Baseia-se nas necessidades do corpo pois, segundo seus cálculos perfeitos e sábios, existe um déficit de nutrientes ou uma conversão desequilibrada entre energia e fontes de poder. Esse tipo de apetite costuma aparecer após exercícios intensos. Fome mental: chega a nós quando um estímulo acende uma lembrança da infância, do que consideramos relevante culturalmente ou do que aprendemos que era delicioso. Esta fome salta em nossa cabeça quando estamos de dieta ou restritos de alimentos; quando sentimos falta do que cozinhavam em casa ou que evoca algum momento feliz. Fome do coração: quantas vezes nos alimentamos da falta de doçura, de alegria, de amor, do abandono ou da rejeição. Esta é a fome que busca desesperadamente –e também incessantemente– fechar uma fissura emocional através de quilos e litros de comida e bebida. Tentamos preencher um vazio emocional com algo físico, no qual mais cedo chega a culpa e o castigo do que a alegria. Por essa razão, os psicólogos recomendam não transformar a comida em punição nem em recompensa ao educar os filhos.A meditação ou a prática de mindfulness (tomar consciência do aqui e agora durante alguns minutos ao dia), nos faz contatar claramente com os pensamentos, as emoções e, claro, com o organismo. Se nos dedicarmos o tempo para conhecê-lo, iremos aprender sobre suas carências, sobre como manifesta as faltas emocionais e sobre suas necessidades fisiológicas. No final, ouvindo o sábio, você tomará melhores decisões alimentares. Melhores decisões em geral, portanto.