Por que o caldo de galinha é o melhor alimento?

Contrário ao que Mafalda pensaria, não há coração que permaneça frio com uma boa tigela de caldo quente. Enquanto o corpo se alimenta com o líquido translúcido e perfumado cheio de nutrientes, a alma se reconforta. Talvez por isso haja um livro chamado Caldo de frango para a alma e que, para ser sincero, não li. O que fiz foi comer caldos de frango e me sentir bem depois disso. Eu os comi doente da barriga, do coração; com um nó na garganta ou com tosse; antes e depois das festas; em tardes frias e ao calor da casa da minha avó. Talvez, no sétimo dia, Deus nos deu os caldos para descansar com eles, mas sem dúvida fomos nós, humanos, quem aperfeiçoou essa receita milenar. Há infinitas formas de fazê-lo. Existem aqueles que são preparados com ossos de boi ou tutano para dar sabor. Eu gosto de prepará-lo simples, com coxas, peitos e pernas, mas em cozimento lento. Na panela, jogo um pedaço de cebola, alguns dentes de alho, três pedaços de aipo, alho-poró, uma cenoura. Nunca me esqueço do bouquet garni que ensinam a fazer na escola de culinária – louro, sálvia, orégano e alecrim, amarrados com fio branco para que o frango não fique azul, como em Bridget Jones –. O frango vai dentro com pele, com tudo, porque proporciona textura e profundidade. Depois, é hora de retirar a espuma com uma escumadeira. Quando não há padecimentos, nada melhor que os caldos de frango que picam, aqueles que têm arroz e grão-de-bico. Para a roda, é preciso chegar com tortilhas quentes, mais quentes que o caldo em si. A alguns, é necessário colocar x gotas de limão por y gotas de molho, que vão na proporção do amor que se imprimiu ao cozinhá-lo (menos sabor, mais gotas). Sente-se gratidão quando no caldo há um pimentão chipotle ao fundo: provoca a vontade de quebrá-lo com a colher, mesmo que os lábios fiquem floridos. O que é ruim? Quando no caldo há peles flutuantes. O que é bom? Quando a bebida é prístina, quase cristalina, sem bolhas de gordura, mas com aromas que acariciam. O romance do caldo vai além da vista. É, além disso, seus múltiplos benefícios. Segundo o que me conta Gina Rangel, nutricionista de Te Cuida, o caldo de frango possui carboidratos saudáveis, gorduras boas e proteínas, por isso é um prato completo e com todos os nutrientes de uma refeição integral. Possui aminoácidos com propriedades anti-inflamatórias e que ajudam a prevenir a insônia. Graças à sua grande quantidade de eletrólitos, uma tigela de sopa reidrata imediatamente. Adeus cerveja do dia seguinte! Para que o caldo seja super nutritivo, Gina recomenda que contenha a maior quantidade possível de vegetais, que seja preparado com alho, cebola, sal marinho e com frango de pasto livre ou alimentação orgânica. “Dessa forma, garantimos que teremos vitaminas, minerais e os três macronutrientes incluídos no caldo”. O ideal é que seja submetido a um cozimento lento de oito horas, mas é preciso: adicionar os vegetais que acompanharão a sopa apenas meia hora antes do término para não cozinhá-los demais. A Yamilette González, coordenadora de chefs de kiwilimón, gosta de adicionar coração, fígado, moela, asinhas e a carne com mais substância. Além disso, recomenda não lavar o frango e cozinhá-lo em fogo médio-baixo, de 2 a 3 horas. Se o fogo for alto, as impurezas se quebram e o caldo se contamina. “As ervas aromáticas variam bastante. Há pessoas que preferem coentro. Minha avó, por exemplo, adicionava hortelã: dava um toque super fresco e gostoso. Assim, se você estava mal da barriga, caía melhor”, me relatou.  É preciso incluir os ossos na preparação pois neles está a magia: sua gelatina é eficaz para o crescimento do cabelo e das unhas, assim como para a redução da dor nas articulações.O caldo é um abraço a todas as luzes. Gina pensa que “através de um prato de caldo quentinho cheio de nutrientes, você dá às pessoas um momento de paz, de estar aqui e agora, confortando o corpo e a alma, por isso, quando uma pessoa está doente, a primeira coisa que pensamos é presentear com um caldo de frango para que se sintam melhor”. Na saúde ou na doença, é preciso tirar um tempo para desfrutar quando uma casa cheira a caldo de frango, quando a tampa da panela tilintante revela que algo gostoso espera no tempo. Seu vapor e seu sabor têm o superpoder de mudar o substantivo “casa” para “lar”. Vamos preparar?