De Kiwilimón para você

Você conhece quais especiarias são orgulhosamente mexicanas?

Por Shadia Asencio - 2020-06-26T09:26:58Z
Não existe frango magro ou fervido que continue tristeando pelos cantos de uma panela se receber um banho de especiarias. Ainda mais se forem especiarias mexicanas. O uso na cozinha dos também chamados condimentos remonta ao antigo Egito e é tão antigo quanto nosso desejo de fazer com que o nutritivo entre no corpo sem precisar tapar o nariz. E é que, como se fossem um rei Midas do sabor, as especiarias têm o poder de dar sabor a tudo que tocam, graças à sua concentração de aromas provenientes das sementes ou da casca de algumas plantas aromáticas. É preciso esfregá-las como uma lâmpada mágica. Uma explosão de aromas sairá de seu interior nos convidando a nos embriagar com elas. Mas cuidado! É preciso ser sutis ao usá-las e cuidar para não tostá-las demais, para que enfeitem cada mordida sem sobrecarregar. As especiarias do México não são exceção. São pura explosão. São razão suficiente para olhar para a terra – ou para o céu – e agradecer pelo que nos dá. Sem as especiarias mexicanas, o mundo estaria faltando algo como sua Quinta Sinfonia de Beethoven, suas Meninas de Velázquez, falando culinariamente. Aí está a baunilha. O que seria das tortas de maçã sem um sorvete com seu sabor? O que seriam os bolos de casamento sem seus bolos de baunilha? A creme de confeiteiro estaria faltando cinquenta por cento de sua alma. Para os biscoitos, faltaria seu cheiro característico. Esqueçam o rompope! A baunilha planifolia é uma especiaria originária do México e em Papantla é onde atinge sua plenitude. Esta especiaria mexicana é uma das coisas – dezesseis no total – que foram defendidas com uma Denominação de Origem pelo governo. No caso da baunilha, essa classificação celebra pedaços de terra – trinta e nove municípios entre Veracruz e Puebla – processos e mão de obra de quem sabe como cuidar das orquídeas de baunilha desde os tempos pré-hispânicos. Daquela pequena vagem, com um simples movimento de uma faca, saem partículas que cheiram a uma flor suave, mas pungente.Outra especiaria orgulhosamente mexicana é a pimenta gorda ou pimenta Tabasco, que também possui o título nobiliário de Denominação de Origem. E embora às vezes a pimenta gorda seja confundida com pimenta preta, por seu sabor é fácil diferenciá-las: uma mistura entre cravo, canela, noz-moscada e pimentão. Sua fama chega à Índia, onde é moída para preparar masalas e posteriormente curries cremosos e temperados. Sem ir mais longe, é um ingrediente essencial na mistura de especiarias usadas no mole, mas também no tempero e sabor de embutidos, salsichas e molhos BBQ.A canela, por sua vez, embora seja originária do Ceilão (atualmente Sri Lanka), chegou a ser chamada de canela mexicana porque é o país com a maior produção. Apenas pensem por um segundo: o que não cheira a canela no México? Seu sabor ligeiramente picante – como tudo que agrada ao mexicano – combina perfeitamente com o doce ou o salgado. A canela nada em um mar de águas de horchata, na moagem especiada do mole, nos recados. Está nos pães doces que os jovens carregam em suas cestas e nos carrinhos de churros das esquinas. É perfume em pepianes e adobos. Está em tudo.Não nos esquecemos de outra grande especiaria mexicana, o achiote, sem o qual a cochinita seria uma simples carne cozida e os tacos al pastor –! De nada, mundo! – não existiriam. O México sabe a pimenta, com certeza. Mas também à festividade de suas especiarias e às ervas aromáticas (que são farinha de outro saco e nas quais mergulharemos em breve). Juntas, as especiarias mexicanas dão identidade a uma despensa que é correto chamar de barroca e até churrigueresca. Basta lembrar que o mexicano não come frango nem chayote fervidos, exceto em caso de doença. Mais vale mortos do que simples, até na comida. O que nos agrada é combinar densidades e camadas de sabor, técnicas e preparações que dão lugar a uma sinfonia complexa chamada gastronomia mexicana. Qual é sua especiaria mexicana favorita?