Um taco que parece almoço

O universo dos tacos é infinito se considerarmos o que constitui um taco em si. Diz-se que um taco se compõe, em sua expressão mais básica e elemental, de tortilla, o recheio que se assentará ao centro desta e o molho que coroa o conjunto. A tortilla é esse sol de milho que ilumina e engloba e atravessa e envolve em um todo a mexicanidade ou, mais bem, aquilo que o Estado-Nação nos tem martelado sob o guarda-chuva de “o mexicano”. Alejandro Escalante descreve em A Tacopedia esses elementos como “a santíssima trindade do México”.  Há dias que acordo pensando em tacos devido à minha caprichosa natureza de querer algo e, nos últimos meses, também há dias em que falo de tacos o santo dia. Às vezes me imponho um exercício de autoexame e, para o caso, gostaria de assumir que todo mexicano se questionou o mesmo: qual é meu taco preferido?  Hoje acordei pensando no taco placero: esse taco simples que nasce da mera espontaneidade de juntar isso e aquilo que se trouxe do mercado em um taco, como um lanche ou um prelúdio de uma refeição. De acordo com o Dicionário Enciclopédico da Gastronomia Mexicana, o taco placero também é conhecido como taco de praça e é típico do centro do país. Em Tlaxcala, pode-se acompanhar também de requeijão e quelites como pápalo, pipicha ou coentro.  Diz-se ou considera-se que o taco placero pode conter: 1) tortilla, 2) chicharrón, 3) guacamole ou abacate, 4) molho, 5) queijo fresco, 6) nopales. Um taco que inclua esses seis elementos será digno de respeito; no entanto, o taco placero pode incluir uma combinação aleatória dos mesmos como: 1, 2, 4 ou 1, 3, 4, 5 ou 1, 3, 4, 6 ou, inclusive, 1, 2, 5, 3. A tortilla, o chicharrón e o molho constituem um taco placero minimalista, mas não por isso simplório. Cada um desses elementos carrega em suas costas séculos de cultura alimentar que se forjou no território mexicano à força de comal, panela de cobre e pilão.  No taco placero também está entrelaçada a ação de sair à compra de ingredientes e “encher um taco” no caminho. Nesse sentido, o taco placero é também um taco que se come às escondidas, um taco que é prêmio, consolo e mata-fome para os que carregam a cesta ou a bolsa do mercado. Meu pai não perdoa o taco placero. É sabido em minha família -especialmente por minha mãe- que antes de a mesa estar posta e as iguarias prontas para a carne assada, meu santo pai já tem meia estocada porque ele foi o encarregado de ir ao mercado.  A evidência é clara: o chicharrón está beliscado, o abacate está pela metade e, como um ato de mágica, a fome que move muitas das ações do meu pai foi domada e sua urgência raivosa por comer desapareceu. O taco placero também é um aperitivo. Uma vez dispostos todos os ingredientes sobre a mesa, é preciso se mover rápido, cotovelo a cotovelo entre os comensais, para montar o taco ao gosto pessoal. O taco placero é público e ao mesmo tempo caseiro. O taco placero é universal e também particular, pois cada um o constrói à sua maneira e costume. O taco placero é chairo, de forma alguma fifí; é ambulante, é desejoso, é resistência econômica no lar. Por último, o taco placero não tem gênero; ou seja, não está associado ao personagem masculino do taqueiro ou à ação feminina de cozinhar um guisado. Hoje meu taco favorito é o taco placero porque me lembra os dias da visita ao tianguis com meus pais. Ao taco placero não tocou o tempo e, embora nós tenhamos mudado, o taco placero permanece crocante, picante, fresco, sempre jovial e pronto para a convivência em família. O taco placero é um taco que parece almoço, que é comida, que é desejo. Hoje, qual é o seu taco preferido? Receita de molho de guacamole 1 abacate 1 ramo de coentro ¼ de cebola 3 tomates verdes 3 pimentas serranas 1 dente de alho o suco de 1 limão 2 colheres de sopa de azeite de oliva Sal e pimenta a gosto É necessário bater o abacate, o coentro, a cebola, os tomates, as pimentas serranas, o dente de alho e o suco de limão. Triture até obter a consistência desejada. Adicione o azeite de oliva e incorpore bem. Tempere a gosto.