Nos olhos de Victor Hugo, “A vida é como uma flor na qual o amor é o mel”. Na Bíblia, e junto ao leite, o mel é metáfora de felicidade, de abundância. Eu diria que é sinal de alegria, não sei, até de ternura. As abelhas nos fornecem a partir do jogo de ir picando o néctar das flores que chamam de alimento. Esse, o líquido dourado que vai se transmutando de abelha em abelha, é um tesouro para os humanos.
Na semana passada, visitei o Mercado 100. Em uma pequena prateleira se exibiam dezenas de potinhos com diferentes rótulos. Eram mel e cada um exibia seu próprio nome. Existem tantas?, perguntei a Victor Manuel Iglecias que, junto com sua esposa, Rocío Zelaya, lideram o projeto Peregrinas. Segundo a US National Library of Medicine, existem trezentos e vinte tipos, mas Victor me informou que atualmente eles manejam quatorze.
O que é o mel multifloral ou monofloral?
Victor e Rocío me explicaram que as variações entre espécies de abelhas não implicam em um tipo diferente de mel. As variações têm a ver com as flores e com as estações em que essas flores emergem da terra. Daí que os méis levem o sobrenome do néctar, no caso de serem monoflorais, ou que sejam multiflorais, quando provêm de uma variedade inespecífica. Para Rocío, esta última categoria é motivo de suspeitas: “As pessoas que mencionam mel multiflora ou mel de selva ou floresta é porque não sabem de que floração pertencem, não são apicultores”, ao contrário dela que é graduada pela Universidade Autónoma Chapingo na carreira de Agroecologia.
Atualmente, seu projeto cria setecentas câmaras com colmeias que se alimentam de quatorze floradas durante todo o ano em diferentes regiões – daí o nome de sua marca, Peregrinas –: de março a abril, em floradas de laranja; de maio a julho, em floradas da zona cafeeira; de setembro a novembro, nas de mozote que crescem entre as florestas de pinho e plantações de milho.
Ao se referir às flores, os nomes dos méis são infinitos. Existem de alecrim, de flores de laranjeira, de eucalipto, de acácia, de tajonal. Na Peregrinas, têm até uma proveniente da flor do abacate, de carvalho e, claro, a melipona que “tem múltiplas propriedades terapêuticas, é utilizada principalmente para frear o crescimento das cataratas nos olhos e como auxiliar para combater infecções no sistema respiratório”. Além disso, é um mel mais aquoso que o restante e na boca deixa sabores cítricos e profundamente doces. Rocío até afirma que é uma sorte que esteja na moda porque até pouco tempo atrás, a abelha melipona estava em perigo de extinção.
Principais diferenças entre os méis
A diferença sensorial é dada pela flor. Em alguns méis, sobressairão mais as notas frutadas, as herbais, as cítricas ou as florais. Quanto a qualidades, também há diferenças. Rocío afirma que é a umidade que determina isso. “Isso se reflete na consistência. Muda segundo o tipo de cristalização”. E por isso existem méis com texturas ideais para cada necessidade culinária. Há aquelas que cristalizam suavemente, quase como uma manteiga, como a proveniente de mozote e cha-chan. Existem outras que cristalizam quase em sólido, como as provenientes do mezquite. Algumas não cristalizam facilmente, como a de flor de laranjeira ou a melipona, que por ter mais umidade são bastante líquidas e perfeitas para serem incorporadas em bebidas.
Para que serve o mel dentro da dieta?
No que diz respeito aos benefícios de consumi-lo, não há dúvida: o mel tem um alto valor nutritivo. Está comprovado que é rico em antioxidantes, reduz o estresse metabólico, promove a recuperação do sono, minimiza as alergias, ajuda a tratar feridas e contusões e estimula o sistema imunológico.
Para maximizar os benefícios do mel, é preciso se certificar de que o que temos à frente é 100% natural, de apicultores como Rocío Zelaya. E é que alguns dos produtos vendidos nos supermercados podem estar diluídos ou adicionados com açúcar e produtos químicos que transmutam o que a natureza já fez em perfeição.
Respeitar tanto o mel quanto as abelhas é parte da agenda mundial nos fóruns de ecologia e sustentabilidade. Sua presença na terra assegura mais do que a continuidade de uma receita de bolo: sua sobrevivência assegura a prevalência da humanidade. O mel e, por conseguinte, as abelhas, são sinônimos de vida. Não por acaso o mel se parece com o amor: é doce, faz bem ao corpo e sem ele, a vida murcha.