O vinho não é um idioma que deve ser aprendido. Não é uma peça de arte conceitual que precisa ser compreendida ou decifrada. Seu coque, cachimbo e luvas, tire-os quando experimentar outras coisas mais sofisticadas. O vinho é provado e pronto. Mas, certifique-se de que o que você levar à boca lhe agrade. Para diferenciar uns dos outros – os “sim, por favor” dos “nunca mais” – é preciso degustá-los e não apenas bebê-los. E se ficar alguma dúvida, aqui eu respondo
o que você sempre quis saber sobre vinho, mas nunca se atreveu a perguntar.
E a tudo isso,
o que diabos é o vinho? Este caldo multicolorido (tinto, branco, rosé ou laranja) é o suco fermentado da uva. Não da que nos enche a boca todo Ano Novo em busca de amor, saúde e dinheiro. Falo da vitis vinífera ou videira cujas variedades ou cepas você provavelmente já ouviu falar: cabernet sauvignon, merlot, malbec e muitos etcéteras. Sim, assim como o manga e suas múltiplas variedades (ataulfo, petacão, manila).
Certamente você deve estar se perguntando, por que cheirar o vinho? Para mim, é a parte mais especial do suco da videira. Os aromas são seu presente – além do sabor – pois neles se revelam contos de castelos, luas e famílias; histórias sobre o lugar onde foi cultivado, sobre a cepa, a receita com a qual foi elaborado.
A receita no vinho não é como a de um cheesecake. O “saber fazer” ou receita à qual chega um enólogo contempla desde a forma como a uva é plantada até se combina com outras variedades para criar blends, ou se o vinho é armazenado em um barril já usado ou novo. As possibilidades são infinitas.
Talvez você não tenha se atrevido a perguntar
por que movemos a taça e depois cheiramos o vinho. Sem dúvida, não é para chamar a atenção. O leve movimento circular oxigena o líquido e desperta com potência os aromas. Faça o teste e cheire a taça parada. Depois, agite-a. Sua percepção mudará.
Quer saber
por que se diz que o vinho “cheira a cereja”, “tem aromas de pimenta” ou “de maçã verde”? Não é que adicionem esses ingredientes na sua elaboração. Os aromas resultam das reações químicas da fermentação e do envelhecimento. O que pode acontecer é que, se na vinícola havia alecrim e lavanda, o vinho desenvolva notas similares. E,
o que faço se eu não cheiro nada? Primeiro, não desespere e pratique. Embora as pessoas te vejam como um louco, experimente a vida através do nariz. No mercado, aproxime-se das flores e grave na memória cada cheiro. No supermercado, cheire as frutas (sem tocá-las, por conta da distância segura) e note se há diferença entre um pêssego e um damasco, entre uma maçã verde e uma vermelha. Em casa, empilhe especiarias e, a certa distância, tente reconhecê-las com os olhos fechados. Isso desenvolverá seu instinto de cachorro farejador.
Se você conhece um fã de vinho, já deve ter ouvido falar dos
taninos. Tanin.. o quê? A tanicidade é uma característica essencial no tinto junto com a acidez, a doçura e o álcool. Para falar dela, primeiro lembre-se da sensação que uma loção adstringente deixa na boca. Essa seca nas gengivas é a tanicidade. Os taninos são desejáveis no vinho, desde que estejam equilibrados com as outras características. Se não estiverem bem “polidos” ou trabalhados na receita, é bem provável que o vinho não seja fácil de beber e te deixe a boca seca.
E finalmente chegamos à pergunta mais importante de todas:
um vinho barato é sinônimo de “ruim” e vice-versa? Como na comida, o preço não garante a qualidade nem o sabor; sempre há descobertas em lugares inesperados e decepções em locais de prestígio. A qualidade de um vinho depende dos cuidados tomados com a uva desde o campo e a vinícola. Além disso, tem a ver com a técnica e a receita do enólogo. Se ele se empenha em produzir produtos de qualidade, eu te garanto que seus vinhos mais baratos serão melhores que os de uma vinícola com muito marketing e práticas medíocres.
Há vinhos para cada momento e cada bolso. Anime-se a experimentá-los com moderação e a degustar com consciência. Aterrize no momento. Mantenha-se presente nas sensações que preenchem o nariz e a boca. O presente será grande.
Tem mais perguntas sobre vinho? Escreva-me e eu respondo: shadia.asencio@kiwilimon.com